sábado, 8 de outubro de 2016

BRASILGUISTÃO, O PAÍS DO FUTURO - PARTE I (A ASCENSÃO)


     Era novembro do ano de 2020. A Nova República do Brasilguistão fora fundada pelo Partido "Conservador" dos Paródicos da Religião (PCPR), que devido a força política adquirida por meio do voto de seus milhões de fiéis (no universo do Harry Potter, os trouxas) dominara o congresso, o judiciário e as forças militares, elaborando por meio de assembleia democrática uma nova constituição federal, pautada por seus valores. Àquela altura, o debate era se nasceria uma lei nova, ou exclusivamente seguiriam o que estava escrito a milênios na Bíblia. Haja vista que a Bíblia por seu caráter metafórico permite muitas interpretações, os partidários da nova constituição venceram o debate, alegando que apenas uma interpretação (a deles) era o ideal ao novo país. 
     Mas houve resistência! A minoria composta por outras vertentes religiosas lutou, mas devagar perdeu a força, devidos as leis novas não permitirem a liberdade de culto e de expressão. A censura, ultrajada e motivo de vergonha nacional nos tempos de ditadura voltara com tudo nos tempos dos Paródicos. Uns continuaram seguindo suas crenças na clandestinidade, outros, mais fracos, preferiram se unir a maioria. Os criminosos mais graves (gays, índios e ateus) foram expulsos do país. Ora, o homossexualismo (e outras aberrações do comportamento sexual do indivíduo) não poderia ser tolerado, exceto, óbvio, os que aceitaram o tratamento para curar seu desvio de comportamento gay. Os hereges ateus (isso inclui qualquer um com crença ou cultura diferente) tinham que ser calados!
     No começo, a nação prosperou! As mudanças necessárias para manutenção da ordem foram bem vindas, e a população abraçou a causa, abastecidas de muitos "oh glória! aleluia!", "o pastor é a voz de Deus na terra!" e "porque é assim que Deus quer!". O povo estava feliz, confortado e conformado com as explicações do sobrenatural. 
    O dízimo, agora positivado pela lei foi naquele momento plenamente aceito. Todos dizimavam. Havia outros impostos, voltados para o bem-estar geral, mas o dízimo era direcionado exclusivamente para a "obra de Deus". Os templos cresciam, os cofres públicos estavam abarrotados! O governo adotou moldes análogos ao comunismo (nunca vou vou entender onde que alguns "filósofos" viram que Jesus era comunista) como sistema. Entretanto não havia distribuição de renda como conhecíamos, digo, não na forma de programas assistenciais ou promoção humana, outrossim na lógica do dízimo. Cada um contribuía conforme sua renda, algo como um "comunismo passivo".
     A mídia só transmitia o que era permitido pela censura, digo, "vontade de Deus". Nada de novelas, esportes, clipes musicais, nada que não fosse ungido pelo presidente apóstolo (outra que nunca entendi, se Jesus escolheu 12 apóstolos, por que sempre surgem novos?). Nada! E o controle da internet era rígido. Apenas poucos tinham acesso à grande rede, algo similar a quando a igreja católica "tomou posse no intuito de proteger o conhecimento escrito" de milhares de livros antigos. 
     A educação nas escolas era direcionada às verdades bíblicas. Filosofia foi banida. Ciências, limitadas. Citar evolucionismo era crime gravíssimo! Ora, se toda a criação era obra do divino, não o que questionar a respeito disso. E quanto mais as pessoas conheciam, mais ficavam curiosas. E curiosidade é coisa do diabo. Melhor, no intuito de proteger o povo da obra do demônio, melhor que suas mentiras não fossem propagadas, especialmente nas escolas.
     E a população estava feliz, EM NOME DE JESUS!


Fim da parte 1.

David Justo